
SMM-NAVIO LENDÁRIO
SANTA MARIA MANUELA



Yls -Amateur Radio Ladies de Portugal vão estar a bordo a ativar o navio mais bonito de Portugal, convidamos todos a visitarem-nos e conhecer a sua historia.
SMM é um navio lendário que vive nos mares há mais de 80 anos. Enquanto bacalhoeiro foi palco de histórias impressionantes de coragem e emoção. Agora oferece uma experiência única aos apaixonados pelo mar, por viagens e vela. Os destinos para 2018 são fantásticos!
http://www.santamariamanuela.pt/


A História do Santa Maria Manuela
O bota-abaixo
10 de Maio de 1937
Lisboa vivia um dia especial. Na Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara, centenas de pessoas amontoavam-se para assistir ao lançamento à água de dois navios acabados de construir: O Santa Maria Manuela e o Creoula. Nesse dia os estaleiros da Companhia União Fabril (CUF) encerraram as portas para permitir que todos participassem na cerimónia. Os operários distribuíram-se pelo topo das gruas e margens do porto encostado às águas do Tejo. Todos queriam testemunhar o 'bota-abaixo' dos navios gémeos construídos em apenas 62 dias para a pesca de bacalhau na Terra Nova e Gronelândia. O momento foi solene, com a presença do Chefe de Estado e vários ministros, e representava um marco singular para a indústria naval portuguesa.
Vasco Albuquerque d’Orey
Vasco Albuquerque d'Orey foi o armador da Empresa de Pesca de Viana, que encomendou o Santa Maria Manuela aos estaleiros da CUF. O casco é em aço, detalhe importante para navegar em mares com gelo. O navio foi batizado com o nome da mulher do armador, Maria Manuela, mãe de 16 filhos.
As aventuras nos mares do Norte
O Santa Maria Manuela foi construído para a pesca do bacalhau. A partida dos navios para os bancos da Terra Nova e Gronelândia era um momento muito emotivo com a despedida das famílias e a presença de altas figuras da Igreja e do Estado. As lágrimas dos familiares contrastavam com o sentimento de grande expectativa dos pescadores em regressar a Portugal com os porões dos navios cheios de bacalhau. O peixe era o seu único meio de subsistência.
As Campanhas
As campanhas duravam cerca de seis meses e iniciavam-se com uma viagem desde Lisboa. A bordo do navio seguiam cerca de 70 homens experientes e preparados para enfrentar a agrura dos mares do Norte. Um desses homens tinha sobre os seus ombros mais responsabilidade do que os outros. Era ao capitão que competiam as grandes decisões: vencer as tempestades; gerir o ânimo da tripulação e encontrar o bacalhau. "Durante a viagem um pescador ficou ferido com gravidade enquanto participava numa manobra de panos na proa do navio", recorda Vitorino Ramalheira, capitão do SMM em 1966. "Quando chegámos ao porto de São João, na Terra Nova, o pescador acabou por falecer. Foi muito dramático e triste." O momento ficou registado pela câmara de filmar de uma equipa do National Film Board of Canada, que se encontrava a bordo a realizar o documentário The White Ship. A pesca do bacalhau à linha estava entre as profissões de maior risco.
Os Dóris
No convés do Santa Maria Manuela seguiam dezenas de dóris – pequenas barcos de fundo chato. As embarcações só desciam à água depois de o capitão verificar as condições de pescar e dar a ordem: "Vamos arriar com Deus." Um dóri levava apenas um pescador. Depois de tocarem os mares gelados cada homem seguia o seu destino, à força de remos ou com o apoio de uma pequena vela. Por vezes os pescadores afastavam-se várias milhas do SMM, e desapareciam debaixo de nevoeiro cerrado. Os pescadores passavam 12 horas consecutivas nos dóris. Lançavam à água centenas de metros de linha com anzóis e isco. Quando a o dia corria bem um só pescador conseguia apanhar meia tonelada de bacalhau. Registaram-se casos em que os dóris afundaram com o excesso de peso, tal era a vontade e entusiasmo dos pescadores. Ao regressarem a bordo os homens jantavam – sopa, peixe e uma caneca de vinho – e tratavam de escalar e salgar bacalhau. O SMM só regressava a casa quando os porões estavam cheios de peixe. "Era o dia mais feliz a bordo, assim que içava a bandeira nacional e iniciávamos a viagem de regresso a Portugal", conta Vitorino Ramalheira, antigo capitão do SMM.
A Frota Branca Portuguesa
O Santa Maria Manuela é um dos últimos exemplares da lendária Frota Branca Portuguesa (Portuguese White Fleet). O nome foi atribuído pelas comunidades da Terra Nova durante a II Guerra Mundial. Durante esse período alguns navios foram atingidos por torpedos de submarinos. Após esses trágicos episódios o Estado Maior Naval decidiu mandar pintar de branco os cascos da frota de pesca portuguesa. Os bacalhoeiros partiam em comboio desde Lisboa em direção à Terra Nova e Gronelândia com o nome e bandeira de Portugal bem visíveis no casco – o nosso país manteve a neutralidade durante o conflito. Dessa frota mítica – imortalizada no livro A Campanha do Argus, de Alan Villiers – resta apenas o Santa Maria Manuela, o Argus, o Creoula e o Gazela I.
Do casco renasce um navio
O Santa Maria Manuela sofreu várias alterações estruturais ao longo dos anos. Desde a retirada de mastros à instalação de uma ponte de comando. Foi acompanhando a evolução dos tempos que ditou o fim da pesca à linha e dos dóris. Em 1993 foi considerado obsoleto e desmantelado, sobrando apenas o casco de aço. No ano seguinte nasceu a Fundação Santa Maria Manuela, um projeto que reunia 17 instituições e um objetivo: recuperar o navio. Mas só em 2007, depois de o casco ser adquirido pela empresa Pascoal é que se iniciou a recuperação. O projeto demorou quatro anos a concluir. No dia 10 de Maio de 2010 – data do 73.º aniversário – o SMM surgiu à entrada da barra de Aveiro com as velas içadas e o casco pintado de branco para atracar no seu novo cais, na Gafanha da Nazaré (onde está situada a sede da Pascoal). Era o primeiro dia da segunda vida do navio. Em novembro de 2016, o Santa Maria Manuela foi comprado pela empresa Recheio, do Grupo Jerónimo Martins. O SMM tem condições únicas para viagens oceânicas, eventos, festas e formação de mar.

